terça-feira, 16 de outubro de 2012

Oblivion

A noite era escura e não haviam estrelas no céu. A familiar brisa congelante passeava pelas ruas desertas e levemente amareladas pela luz dos postes, uivava entre os prédios.
A garota de cabelos coloridos, caminhava pela estrada, sem rumo, vestindo seu inseparável casaco preto, calças e tênis sujos e desgastados de tanto caminhar. Havia fugido de casa. Seu único amigo havia morrido. Os problemas com os pais a sufocavam, ela não suportava mais, apesar de ter a certeza de que, nessa hora, em algum lugar, sua mãe, desesperada e acompanhada pela polícia, a procurava.
Cantarolava, rodopiando e dançando enquanto andava, rindo. Sentia o gosto da liberdade, mesmo que não parecesse tão bonita como a maioria das pessoas imaginam. Ainda sim, era o paraíso para ela. O sorriso da mais pura felicidade estampado em seu rosto não enganava - estava realizada.
"Eu disse que esperaria para sempre", ela sussurrou, com seus dançantes e alegres passinhos que a levavam para uma ferrovia qualquer.
A buzina soou.
O maquinista gritou.
A luz aproximava-se rapidamente.
"Te vejo em breve. Numa noite escura, como prometido". Soltou uma risadinha, mesmo com a lágrima que acabara de cair de seu olho, escorrendo por sua bochecha pálida como leite.

Dias depois, a mãe, desesperada, agarrava-se a uma bíblia, com seus olhos arregalados ao ver o corpo da filha desmontado pelo impacto, inerte e ensanguentado.