quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Ceremonials

"Cabrum!" - exclamou o alvo céu nublado, pesado. O dia havia escurecido pelas melancólicas nuvens, e a brisa congelante exterminara o calor que horas antes acalentava os corações dos jovens enamorados ali, na frente da escola. Eu, como sempre, estava sentado na grama, perto da árvore. A árvore na qual meses atrás estávamos riscando nossas iniciais, rindo porque era clichê. Infelizmente, os ali presentes ficariam até anoitecer, estavam munidos de capas de chuva, guarda-chuvas e calor humano - haveria um evento qualquer.
Contrastando o cenário cinzento, minhas roupas quase fluorescentes de tão coloridas destacavam-me, alimentando minha recente fama de depressivo e isolado. Eu não conseguia chorar por sua morte, pois não conseguia aceitá-la. Não como algo que fosse contra a minha vontade e eu estivesse revoltado, mas porque a ficha não tinha caído. Você simplesmente não havia morrido. Aquele corpo no caixão era apenas um clone. Sua família estava lamentando por outro filho com o mesmo nome.
Lembrei de suas velhas manias de fazer cambalhotas pra me alegrar - sempre funcionava. E foi o que fiz. Na frente de todos aqueles adolescentes, estava eu, "sozinho", dando cambalhotas e rindo. Curiosamente, ouvi sua risada.
Zeus lançou mais outro brado, e o céu começou a chorar - por mim, eu suponho. Realmente parecia, afinal, torrentes desciam das nuvens.
Escureceu. O evento já tinha acabado (era uma apresentação qualquer, de uma banda qualquer), e eu continuava ali, envolto pelas sombras e pelo frio trincante, dançando, rodopiando, dando cambalhotas e rindo. Rindo porque eu sabia que você estava do meu lado, rindo comigo (ou de mim). Sentia o calor do seu sorriso contrastando com aquela ventania que chicoteava minha alma. Sentia sua presença. Seu abraço.
Foi então que a ficha caiu. Você havia morrido.
Desabei, chorando junto com as brumas que inundavam o céu. Joguei-me contra a árvore, arranhei seu tronco. Meus dedos sangraram, mas não mais que meu coração.

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