terça-feira, 14 de agosto de 2012

Ever (parte 1)

O céu não estava paradisíaco, mas estava bonito, apenas por ser noite. E estava frio. A brisa - por mais gentil que fosse - era gelada e dançava entre os galhos e folhas emaranhados, atravessando-os e alcançando o jovem rapaz.
Ofegante, afinal tinha corrido muito (coisa que não fazia há muito tempo, era sedentário demais), ele desabou sobre o chão, escorando-se num dos pilares que erguia o rústico e nostálgico prédio. Perdido em violentos soluços, ele não sabia se chorava ou respirava. Sim, outra briga com a mãe. Normalmente ele se recolheria em seu quarto e ficaria encarando a parede, inexpressivo, até ela obrigar-lhe a ir à igreja. Mas essa foi a gota d'água. Ele não tinha mais estruturas para aguentar os arpões que eram-lhe lançados. Ela, num momento desses, estaria (ou melhor, estava!) conversando com suas primas e amigas sobre quão ridículo havia sido a atitude de seu filho, e como ele precisava de salvação.

O zelador saiu de dentro do hall que era oculto por portas de vidro escuríssimas. Seus traços eram característicos de um homem de idade, e se revelavam suavemente diante das luzes amareladas que refletiam na madeira escura das paredes. Perguntou para o rapaz o que havia lhe acontecido de tão ruim. Mas ele não conseguia falar. Seus suspiros eram demasiadamente intensos e tomavam o espaço de suas falas. O velho se abaixou e tentou consolar o menino, pousando sua mão trêmula no ombro dele. Não adiantou. Ele soltou um suspiro, entristecido, levantou-se e voltou à sua sala, dizendo que se precisasse, estaria ali. O menino não ouviu.

E depois de tanto chorar, seus olhos não tinham mais lágrimas para derramar e seus pulmões não aceitavam mais o ar. Sentiu seu corpo leve como uma pluma cair para o lado, quicar levemente... e parar. E nada mais importou. Sua visão não era verbalizável. 



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